sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Prelúdio à plenitude

Corpo pequeno, mas bem esculpido. Da medida certa. Menina moça que farei mulher. Seus olhos melancólicos me entristecem. Ainda assim, é impossível não se apaixonar por tão bela criatura. Curvas quase acentuadas. Sua pele treme ao meu toque, acompanhado de um gemido sufocado pela fita. Está muito apertado, querida? – pergunto a ela. Que me responde com uma chuva de lágrimas e soluços nasais. Lágrimas que deixam de ser salgadas ao tocar sua doce pele. Ah, sua pele! Branca, quase açúcar, linda, tremula, arrepiasse toda vez que chego perto. Seios que ainda brotam. Isso me excita. Torna-me viril, inflama-me de desejo. Sinto-me o dono de tudo, o Deus do novo mundo. Isso, eu me tornarei Deus! Meu sexo começa a se manifestar. Liberto-o da clausura de minha calça ao frescor daquela noite orvalhada. E agora admiro o anjo deitado em minha frente. Exposto a mim como uma oferenda. Aproximo-me. Toco seus pequenos seios. Ah, que sensação é essa que me domina? Ajoelho-me diante dela, submisso ao seu encanto. Fascino-me com o seu sexo límpido. Encosto minha face áspera em suas coxas lisas e deslizo até a depressão no meio de suas pernas. Oh adoráveis vulvas inchadas de prazer. Toco, suavemente, minha língua sobre elas e aprecio o salgado sabor do pecado. Encontro o néctar almejado. Saboreio com lentidão, degusto cada gota. Cada suculenta gota. Meu sexo está em frenesi, não consigo mais controlá-lo. Chegou a hora. Após esbaldar-me em seu gozo devo consumar o amor que sinto por esse anjo. Fazer a união. Fazê-la parte de mim. Deixar de sermos dois para nos tornarmos apenas um, unidos pelos nossos sexos. Unidos pelo meu amor.

O sangue jorra. Um forte zunido ensurdece-me por alguns instantes. Minhas mãos, repentinamente, ficam tremulas. Vista embaçada. Meu ombro inicia um complô de dores contra mim. Puxo o ar para os pulmões, mas pouco entra. Não é o ombro, é o peito. A dor intensifica, meu corpo segue uma rota de queda sem que eu tenha ordenado, sem que eu tenha controle. Encontro o chão, em um grande baque.

Vacilante, tento me levantar, mas é em vão. Sinto meu corpo anestesiado, mole, sem qualquer reação aos meus desejos de movimento. Virado de barriga para cima eu reparo em meu peito um pequeno jorro de sangue insistente. Minha respiração torna-se ofegante. Não, não, não! – exclamo sussurrante entre os dentes rangidos, enraivecido. Não posso acreditar que o vigésimo terceiro anjo não será consumado. O último do meu ciclo de onipotência. A última parte de mim, de meu poder.

Escuto passos em minha direção. É a única coisa que consigo fazer no momento, escutar. Ouço vozes, mas não consigo interpretar o que dizem. Minha visão torna-se opaca, já não consigo distinguir as cores, só vejo uma pequena parte de luz. Deve ser o brilho do luar, ou a famosa luz no fim do túnel. Sinto minha vida esvair de meu corpo, assim como as minhas chances de me tornar Deus sem ter completado minha missão.

Sinto uma mão me tocar. Só pode ser ele. É sim, é ele. Ele escutou meu clamor. Já não sinto mais dor. Sorrio, pego em sua mão e me levanto junto a ele. Não consigo ver o seu rosto, há uma luz intensa que o reveste. Caminho ao seu lado, pois sei que me leva para um lugar melhor.

“Ele está morto, sargento!”

“Melhor assim, um monstro a menos no mundo... Vamos, chamem uma ambulância para a menina”




Nota do autor: Para salvar esse blog da decadência criativa, publico esse conto. Tive um esmero súbito de criatividade e decidi terminá-lo e postá-lo. Esse é bem superior ao anterior, espero que gostem :))

3 comentários:

Sílvia Mendes disse...

Curti muito esse final. Confesso que não li o outro que me mandou. Ficou salvo no computador do meu irmão e eu, em casa, mal entro na internet. Quando o faço é por meio do notebook, então nem chances, né? Não sei se é igual ou diferente ao que você me mandou, vou ligar o computador do Serginho para ver. Mas duvido que seja melhor que esse.

Abraço!

Tamara disse...

Nossa, MUITO bom. Muito bom mesmo. O final foi bem surpreendente e a descrição e narração dos acontecimentos foram sensacionais. Gostei bastante, Léo. Parabéns!

anacaroline disse...

Lééooo... aiii dãr, dá pra usar a conta do GOOGLE, deixei isso passar despercebido, achei que só blogueiros comentavam :D

sobre o texto, me enganoou de novo!
gostei muito do desfecho desse, mais do que do 'querida ruivinha'. este foi mais surpreendente... e chocante também! :D
parabéns pelo texto! ;* (y)