quinta-feira, 17 de setembro de 2009

No quarto, luz apagada.

O fim vem logo antes do começo. Com uma decisão. Não há mudança na rota de colisão. É inevitável. Ela, a colisão, já estava prevista desde o início. Desde a escolha do caminho. Por isso a reflexão é tão importante. O esmiuçar das ideias, o ruminar os farelos, o egoísmo do pão. Partilhar as vezes é muito caro, não vale a perda. As vezes a perda, também, pode trazer frutos maiores. Por isso a reflexão é tão importante. É nesse momento que tudo cresce. No regar, no adubar e na espera. O Sol é natural e de propriedade de todos. Cabe saber quem irá melhor utilizá-lo. Creio que além disso haja o não esquecer. Sim, você pode se dedicar, cuidar, mas se não tiver paciência tudo se perderá. Ter paciência é virtude de poucos. Você tem que ter o privilégio da florescência. Experimentar. Tão belo. Tão magnífico. Tão sexo. Talvez por isso poucos dediquem-se a esse caminho. Pois uma rapidinha não demora nada mais do que meia hora. E o que é isso para uma vida inteira? Nada! Mas um monte de rapidinhas pode ser alguma coisa... Por isso a reflexão é tão importante.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Será que funciona?

É. Eu sei. Mas não tem como. É sempre assim. Não consigo evitar. É clichê na minha vida. Virou rotina. Não falo da insônia. Nem da correria. É. Disso mesmo. Tenho medo que seja para sempre. Sendo que todos buscam um felizes para sempre. Por isso seguem em frente. Mera ilusão. Eu não. Felicidade nunca foi real. É uma realidade incondicional. Não existe. Eu busco outra coisa. Não. Eu ainda não sei o que é. Onde estaria o desafio se eu soubesse? É a graça da vida. Sempre cheia de chegadas e partidas. Faz-se sempre uma despedida. Nada de festas. As vezes há tristeza. Outras sorrisos de alegria. Não. Alegria não é felicidade. Alegria existe. Normal. Todo mundo confunde afinal. A felicidade é um estado completo. Muito complexo. Alegria é passageira. Ato de puro reflexo. Calma. Sem desespero. Há ainda o sexo. Sim. Não me chame de rude. Quer coisa melhor? É o ato que nos faz mais próximos da completude. Sério. Olhe para mim... E ai, a fim?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A última de um bandoleiro

É tudo constante nas retinas. Os mesmos sorrisos amarelos, as mesmas caras fechadas, o mesmo cinza. É sempre a mesma fumaça nas narinas. Puxa, prende, fuga da mente, uma pequena partida. Como você queria a viajem daquela menina. Rebolation modo:on, olhar de ressaca, boca carnuda cheia de malícia. Garçon, manda aquela estricnina. Agulha no braço, suor na testa, só mais essa vez, para uma grande saída. Preciso só de um pouco mais de adrenalina. Só mais essa vez, eu prometo, é a última com minha doce heroína.



Para um grande amigo que partiu hoje. Realmente foi a última, meu caro. Que Deus o compreenda e o tenha.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Summer Time

E a insônia me persegue. Atormenta. Irrita e acorda os demônios enjaulados. E eu fujo. Fujo do meu corpo. Para bem longe. Busco o som do mar nas rochas. O calor em minha face branca e de barba cerrada. A brisa leve de assobio ao léu. O som do violão dedilhado com gentileza e maestria. Saudades das tardes de sol, da cama e da despreocupação, aquele velho dia-a-dia. Tardes de sono acordado ao som do vento na janela branca entreaberta. Do livro muitas vezes lido ao lado do meu corpo estendido sobre o edredon. E aquela eterna espera sem nenhuma pressa pelo desejo de levantar. Saudades da solidão criativa. Talvez até da solidão sofrida; sozinha. Do copo de cerveja no bar sem nome em meu peito. Mas assim, diriam os analistas, eu não seria feliz direito. Mas quem realmente é? Eu só quero o que o tempo me tomou por crescer; por longa data. O regresso de uma alma à sua época. Eu quero o fim do termo saudade. Eu quero a paixão de certa idade. Eu quero tudo, tudo outra vez.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Dois amores e o erro

A carne queima igual brasa de lenha seca. A cada fechar de olhos um batuque infernal inunda os ouvidos cansados. A vista queima também, arde, lacrimeja, pressiona o cérebro contra a nuca. O sorriso é amarelo, sem contorno, sem vida. Na realidade não há sorriso, é apenas uma expressão vazia; de nada. Toda a carcaça está abalada, fraca. Um sopro e despenca ao infinito do poço. Sem retorno. Sem grito de desespero. Só o zunido do vento sobre a massa semi-falecida. Só lhe resta o desejo de calmaria; o silêncio. Mas falta-lhe forças para buscar o sossego. A cama torna-se montanha cercada por abismos. E o lembrar é tortura para a consciência recém retomada. E tudo se agrava ao ver, no escuro das imagens fragmentadas, os olhos dela cheio de lágrimas. Tudo fica mais pesado. Tudo fica mais humano. Agora o levantar-se ficou mais penoso, mais indesejável. A garganta seca clama por água. Os olhos fornecem somente a salgada. E chega o inferno da lucidez e sobrepõe à maldita ressaca.

terça-feira, 14 de julho de 2009

O que eu faço, Seu doutor?


- E o sangue ainda quente em minhas mãos fez-me ranger os dentes, trancar a respiração, enxergar os escuros do quarto mais nítidos do que toda a luz que emanava pela janela. A dor inicial já não importava mais, mas o sangue sim. Só o sangue em abundância que importava. O pavor me dominou, os sentidos me abandonaram e a luz se apagou. E na minha primeira vez eu desmaiei e descobri que tinha, e tenho, hermatofobia. E agora toda a vez que eu e o meu namorado estamos, o senhor sabe... transando, eu acabo desmaiando por lembrar do ocorrido. Para ele tanto faz, aquele canalha, porque quinze minutos é mais tranquilo do que duas horas. Mas o que me preocupa não é ter que atingir o orgasmo sozinho, doutor, mas é ser violada por trás na hora em que eu desmaiar. O senhor entende, ? Anal. Por isso tenho evitado dormir com ele. E ele não suporta mais isso, me disse que está revendo nosso relacionamento. Pediu um tempo, sabe? E eu o amo, doutor, sei que ele me ama e não quero perdê-lo. E tenho medo que ele esteja já me traindo com outra. O que eu faço, Seu doutor?

- Terapia!

- Terapia!?... Ah, para perder o medo de sangue? É isso, doutor?

- Não, para perder esse medinho besta de dar a bunda. Porque, sinceramente, todo homem sonha em ter uma mulher, assim, como a senhora: bonita, sexy, que não se preocupa em atingir o orgasmo sozinha e que desmaia na hora do sexo. Seu namorado, um cara de sorte. Não será eu, e a senhora me desculpe, que irá estragar tudo isso. E se a senhora o ama e quer que ele continue a amando, faça o que eu digo: procure um terapeuta!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

To minutes to midnight

[…]Blackened pride still burns inside

This shell of bloody treason

Here's my gun for a barrel of fun

For the love of living death…


Acelera! E as risadas eram altas. A chuva era forte. O piloto era bom, mas estava sob pressão e alcoolizado. Os amigos não eram dos melhores também; do tipo “pilhadores” - Dale dale dale. Falta um minuto para a música acabar, vai. A chuva já não era forte, mas a pista já não era seca. E a última curva foi feita sem frear. A Joinville de maracujá apertada sobre o peito prevendo o pior. E o pior veio. Não do lado em que o carro ia se perdendo na curva. Mas do outro em que foi puxado para se salvar. Não bateu onde ia bater – bateu onde não deveria bater. Onde parecia impossível. Coisa do demônio. Só pode! Todos ilesos. Menos o carro. Perda total? Não sei, pensei em salvar só a Joinville. Ainda bem que a salvamos. Serviu-nos de consolo após a tragédia. Tragédia? Mas não ficaram todos bem? Sim, menos o carro. Então por que tragédia? 600 reais de franquia. Mas pense comigo: Poderia ter sido alguém no lugar do meio fio, uma criança quem sabe, e isso sim seria uma tragédia. Mas às quatro da manhã? Sei lá, eu já não discuto mais isso.


[…]The body bags and little rags of children

Torn in two,

And the jellied brains of those who remain

To put the finger right on you…


E agora? Tudo na mesma. Sério? Sim, não há mais nada o que fazer. Ah, lógico, vai ficar a lição e o blá-blá-blá que tomaremos mais cuidado, pelo menos na hora de dirigir. Mas ninguém vai parar de beber e criar consciência puritana por causa disso. São coisas que acontecem. E a vida segue. E então? Então o quê? Ainda tem Joinville? Acho que sobrou meia garrafa. Vamos lá? Não sei... só se for a pé. Beleza!


Midnight...Midnight...Midnight...is all night.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Charminho o caralho!

Os meus pulsos ainda estão inchados. Minutos em silêncio e eu sinto a palpitação, a latência, a insistência. O quadril também está inchado e qualquer movimento que eu faça é como se facas estivessem perfurando delicadamente cada centímetro quadrado do meu corpo. As feridas nas minhas costas cicatrizaram a pouco, mas se eu contraio os músculos elas se abrem com facilidade e umedecem o dorso e a lombar com sangue - durante o dia troquei três vezes de camisa. Meu corpo todo dói. Até a minha mente estava doendo, agora está em transe sob o efeito de um remédio qualquer que estava na gaveta. Hoje estou com um pouco menos de cabelo, pelo o que eu notei ao me olhar no espelho pela manhã. E percebi também que o meu lábio inferior dobrou de tamanho - acabei até mordendo ele algumas vezes durante o dia, quando me comunicava ou comia. Por falar nisso, me pesei antes de chegar ao trabalho, resultado: três quilos a menos. Tive sorte, você sabia? Eu poderia ter morrido mesmo. Sete horas ininterruptas. Acredito que eu tenha aguentando devido a resistência que eu adquiri com a academia. Mas se eu levar uma dessa toda semana, em um mês ou menos eu estou dentro de um caixão, desnutrido, com algum osso quebrado e cheio de perfurações nas costas e no pescoço. Então, pelo meu próprio bem e de outros, só um conselho que eu te dou: Nunca mais fique tanto tempo sem dar, sua cú doce!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mande notícias

O teu telefone tocou. Estava lá eu angustiado. O teu telefone insistiu, e estava lá eu ainda mais angustiado. Atendera depois da quarta desesperadora chamada. O teu 'Alô?' foi doce, carinhoso. Nem se quer sabias quem telefonara, mesmo assim mantiveste a doçura no tom de voz. Aquela mania de agradar a todos; bem me quer, sempre me quer. Um gole de conhaque foi preciso para eu me acalmar. E aquele medo de avião me invadiu o peito, quando, constrangida, sua voz revelara-se assustada. Não me contive, levantei-me do sofá de couro surrado. Comecei a andar de um lado para o outro da sala, nervoso. Mais um conhaque e já se fora metade da garrafa. No bolso nada - Ah, que falta me faz um cigarro! E como é perversa nesse jeito de falar; voz de Ligeia. As sereias, porém, possuem uma arma ainda mais terrível do que seu canto: seu silêncio. E o telefone no gancho ela colocou. E todo aquela quietude, som de respiração ofegante, coração disparado ocupou a sala. Barulho de nada. Está morto? E o silêncio respondeu... E o meu grito, pela madrugada, calou o silêncio da espera e deu início as comemorações no Morro do Catete.

Morre Pedro Paulo da Silva, o Joinha, chefe do tráfico de drogas do Morro do Jaú no Hospital Maria da Glória após ser baleado em confronto com gangues rivais pelos pontos de comercialização da droga.

terça-feira, 16 de junho de 2009

For a dream


Sobre a cadeira move-se sem calma. Derramou um só lágrima. Sem dores na carne, mas a alma grita. Esperneia. Escarneia do próprio desespero. Com as mãos procura abraçar sua própria essência. Acaricia os próprios ombros em busca de consolo; compreensão. Outra vez. O telefone toca, grita histérico por atenção. Lembrete: antes de usar heroína, pôr o telefone no vibra-call; ou no silencioso. O efeito é rápido. O telefone insiste, mas agora nada mais importa. Tudo é silêncio. Os pássaros não estão mais enjaulados. O corpo vacilante escorrega para o chão. Leve. Leve como Ícaro em seu voo da morte. O gosto amarga a boca, mas sacia os tremores. o Sol já não invade mais pela janela. Não há mais paredes. Não há mais nada. Só lhe resta o cú. Até a próxima picada.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A frase que ecoou:

"A descrença no movimento é o câncer da causa."

Leo Molleri


segunda-feira, 1 de junho de 2009

Troca equivalente

- Perdoa-me, meu filho. Encontra-te com o rebanho do nosso Senhor, que Ele o guie para a luz e o abençoe. Amém! - O padre Ezequiel, com os olhos marejados, dava a extrema unção ao corpo, já falecido, de Pedro.
- Padre?
- Sim, Salazar! Veja você mesmo...
- Não, não é possível! Mas padre...
- Não, pelo visto não.
- Como isso aconteceu se você mesmo, padre, o...
- Não me pergunte, se eu soubesse não estaria aqui duvidando da minha própria fé.
- Padre...
- Que Deus me perdoe por essa terrível blasfêmia, mas se Pedro morreu não foi por culpa do nosso Senhor. Foi minha e tão somente minha, que não tive fé o suficiente Nele.
- Mas...
- Não mereço a batina que visto. Não mereço o toque de Deus sobre os meus ombros, nem ser um mensageiro de sua palavra... Não mereço nada que venha do Todo Poderoso!
- Pare, padre! O senhor fez tudo que estava ao seu alcance. Não teríamos como saber que Pedro se entregaria ao...
- Basta, Salazar! Este é um fardo que terei que carregar pelo resto de minha vida. E que Deus me perdoe por duvidar, e que me perdoe por não salvar Pedro dessa desgraça, por não tê-lo tirado do caminho das trevas... que Ele me perdoe algum dia por não ter tido fé.
...
- Salazar?
- Sim, padre, estou aqui!
- Venha, meu filho, despeça-se do teu irmão, que agora encontrou a liberdade que tanto me suplicava... a liberdade que não pude lhe dar de outra forma se não fosse pelas mãos cadavéricas da morte.
Salazar não compreendeu essas últimas palavras sussurradas pelo padre, mas dirigiu-se e ajoelhou-se perante ao corpo de seu irmão. Com os olhos fixos na face pálida de Pedro, Salazar chorou. Pela primeira vez em 20 anos ele demonstrou algum sentimento pelo irmão mais novo. E ao desviar os olhos, vasculhando o corpo de Pedro, notou na cintura a mancha de sangue sob a camisa branca e as palavras do Padre Ezequiel agora faziam-se claras.
Não o culpou. Não o julgou. Percebeu que o padre Ezequiel era tão humano quanto ele, tão humano quanto o seu irmão Pedro. Tão incapaz quanto qualquer um sobre a terra.
Ergueu-se firme com o corpo de Pedro em seus braços e decidido, não mais cairia sob os pés de outro semelhante, não se entregaria as palavras de um ser que mal conhecia ou se quer chegou a realmente conhecer.
Salazar abandonou sua fé e, então, não mais chorou.

domingo, 26 de abril de 2009

Fechado para balanço

Um tempo aqui tem que ser dado - dias, semanas, meses, quem sabe? -, pois a inspiração me abandonou sem aviso prévio, sem nem uma carta de despedida. E o vazio se fez.
Talvez ela precise de um tempo para pensar, para ver se eu realmente valho a insistência que se fazia aqui.
Só sei que eu sinto falta dela e, sei, que ela pensa, de alguma forma, em mim. E só me resta a angustia da espera e a esperença de que ela baterá em minha porta, mais uma vez, pedindo abrigo... Sentando, aqui, na frente do pc, com uma página do word em branco aberta.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Limites


Que agonia é essa que me toma? Tento escrever um parágrafo de cada vez, mas está se tornando impossível essa minha desistência dos romances ainda não escritos. Talvez seja a certeza inevitável de um final irreversível, repetitivo. Ou a falta de uma inspiração verdadeira, que ao certo não sei quando a última se fez distante de mim e disse adeus.

As palavras estão aqui e sempre estiveram. São companheiras, cúmplices. O léxico é abundante. Os estilos estão bem definidos, há até uma certa originalidade na estrutura, na construção. Os trechos unem-se com facilidade, há fluência.

Mas falta-me algo que eu um dia tive. Algo impassional, frenético, rijo.

A produção literária é como um golpe de taekwondo: você pode executá-lo com toda a técnica, giro e tempo perfeitos, mas se não tiver potência, força, ele não vale; não é computado.

Talvez seja isso que me falte: uma potência, uma jovialidade sentimental forte. Não digo o vigor de um jovem adolescente que acabou de descobrir o sexo e não pensa em outra coisa a não ser dar mais umazinha atrás de outrazinha. Até porque um texto necessita de tempo, um sexo lento, com direito a uma longa preliminar – incluindo jantar a luz de velas, vinho na frente da lareira e uma bela conversa antes do primeiro beijo longo, doce e caliente – não viaja, o chapado! Eu não faço isso, é apenas uma metáfora.

Essa minha incapacidade de descobrir o que está me esterilizando criativamente me irrita profundamente. Chego a rasgar com raiva as folhas do caderno rabiscadas durante alguma aula chata da faculdade – que antes me traziam ótimos textos.

Eu poderia chegar aqui e culpar o trabalho, a faculdade, a falta de tempo, o período de provas, a carga de leituras que tenho que fazer... Mas tudo não passaria de uma mentira das mais descaradas, uma falácia – pois estou escrevendo neste exato momento.

Para você vê como está critica a situação: cheguei, agora, em um ponto que nem esse texto eu consigo acabar. Estou com uma vontade tremenda de apertar o botão de reiniciar do pc, assim, sem mais nem menos, e com certeza eu não sentira remorso pelo tempo desperdiçado. Hoje eu ouvi na aula: “Tempo é dinheiro, e quanto mais se faz em menos tempo mais tempo se tem para ganhar dinheiro”. O meu tempo é lixo irreciclável. Será o meu fardo, morrerei pobre. Só me senti responsável em dar uma justificativa. Creio que só para mim mesmo, essa justificativa, pois acho que ninguém mais lê (relê) esse blog além de mim.

Só sei que há um vazio em minha mente e uma certeza de que há um culpado para isso. E eu hei de encontrá-lo. Mas só sairei a procura depois da prova de matemática de amanhã - eu ainda nem comecei a estudar para ela. E mesmo não tendo ninguém ai do outro lado da telinha (ô loco meo, brincadeira!), lá vai a pergunta que não quer calar: alguém ai sabe calcular limites? Gostaria de saber se eu já cheguei no meu.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Recomeço

Rasgam-se e atiram-se os pedaços ao vento das cartas empoeiradas na gaveta travada da escrivaninha capenga saboreada pelos cupins. Dispensam-se as lamentações e o passado nunca vivido para reinventar-se na intensidade da recente lembrança dela. Para assim, debruçar-se sobre o papel em branco e iniciar a criação da nova matéria ocupante da, agora, gaveta vazia.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Se(i,)mente

A vida já não é mais latente.

A cor emana pequena, humilde, discreta na imensidão acinzentada do cemitério dos horizontes. Resiste. Luta. Não vence o todo, mas entra em acordo com o meio. Conquista seu pequeno espaço. Convive.

Escarnece o solo rochoso, árido, seco. Põe-se sob a plenitude de um ser maior. Incomparavelmente maior de objetivo único e simples: prover constantemente feixes retilíneos invisíveis; inflamáveis na focalização de lentes côncavas.

Desafio impiedoso ao zigoto recém germinado, pelo desejo incontrolável e agonizante de respirar, suportar tal penitência. Viver o inferno todos os dias, curar-se durante a noite para repetir-se na tortura incessante na manhã seguinte.

Fruto do gozo de um ser enlouquecido, por uma vida inteira insistente, sofrida sob aquele mesmo ser luminoso, em seu leito de morte. Queria ele, o zigoto, ser o tal Ser luminoso de serviço fácil e admirado por todos. Pois a sua sobrevivência faz-se dependente não só de seu labor frenético, mas também de uma necessidade constante da apreciação alheia por si.

Egoísta, você diria? Não, apenas humano. Mas não era de uma planta que estávamos falando? É meu caro, mas a vida já não é mais semente.

segunda-feira, 23 de março de 2009

The Sound Of Silence - Simon & Garfunkel


Composição: Paul Simon

Hello darkness, my old friend,
I've come to talk with you again,
Because a vision softly creeping,
Left its seeds while I was sleeping,
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence.

In restless dreams I walked alone
Narrow streets of cobblestone,
'Neath the halo of a street lamp,
I turned my collar to the cold and damp
When my eyes were stabbed by the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence.

And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more.
People talking without speaking,
People hearing without listening,
People writing songs that voices never share
And no one dared
Disturb the sound of silence.

"Fools" said I, "You do not know
Silence like a cancer grows.
Hear my words that I might teach you,
Take my arms that I might reach you."
But my words like silent raindrops fell,
And echoed
In the wells of silence

And the people bowed and prayed
To the neon god they made.
And the sign flashed out its warning,
In the words that it was forming.
And the sign said, "The words of the prophets are written on the subway walls
And tenement halls."
And whisper'd in the sounds of silence.

Tadrução:

O Som do Silêncio

Olá escuridão, minha velha amiga
Eu vim para conversar contigo novamente
Por causa de uma visão que se aproxima suavemente
Deixou suas sementes enquanto eu estava dormindo
E a visão que foi plantada em meu cérebro
Ainda permanece
Entre o som do silêncio

Em sonhos agitados eu caminho só
Em ruas estreitas de paralelepípedos
Sob a auréola de uma lamparina de rua
Virei meu colarinho para proteger do frio e umidade
Quando meus olhos foram apunhalados pelo lampejo de uma luz de néon
Que rachou a noite
E tocou o som do silêncio

E na luz nua eu vi
Dez mil pessoas talvez mais
Pessoas conversando sem falar
Pessoas ouvindo sem escutar
Pessoas escrevendo canções
Que vozes jamais compartilharam
Ninguém ousou
Perturbar o som do silêncio

"Tolos," digo eu, "vocês não sabem
O silêncio como um câncer que cresce
Ouçam minhas palavras que eu posso lhes ensinar
Tomem meus braços que eu posso lhes estender"
Mas minhas palavras
Como silenciosas gotas de chuva caíram
E ecoaram no poço do silêncio

E as pessoas curvaram-se e rezaram
Ao Deus de néon que elas criaram
E um sinal faiscou o seu aviso
Nas palavras que estavam se formando
E o sinal disse
"As palavras dos profetas
Estão escritas nas paredes do metrô
E corredores de habitações
E sussurraram no som do silêncio"

quinta-feira, 19 de março de 2009

O maior romance de J.C.

Caro José,

A pena já não mais se encontra abandonada, residente, sobre o papiro amarelado; envelhecido. A inspiração voltou e com ela um sonho se fez na noite anterior. E nesta manhã os traços seguem-se na harmonia da voz vigorosa que dita as palavras em tom facundo. Voz de pessoa autoritária, mas calma, de caráter enriquecedor e sábio. A mão já não é mais um membro pertencente ao braço, ela tornou-se extensão dos pensamentos e das palavras reverberadas com insistência pela voz na minha mente enlouquecida de escritor fajuto. Um romance está para nascer e sem um pingo de humildade se tornará o mais lido em todo o mundo; o mais vendido; o mais discutido e mais questionado. Atravessará os anos, talvez centenas de anos, quem sabe até os milênios se a humanidade assim perdurar e perpetuará com ela. Será alento de muitos escritores e de, praticamente, toda a humanidade. Terá os seus opositores, mas isso só engrandecerá ainda mais a minha obra. Não penses que devaneio sobre isso, pelo contrário, se me encontro nesse estado de euforia é porque sabes que tenho certeza daquilo que será.

Um romance que contará com um personagem ao qual se lembraram e o tomaram como fonte de inspiração e, porque não, exemplo. Será nosso semelhante, porém superior; inigualável. Diria quase um Deus. Em que todos se espelharão e tentarão alcançá-lo em plenitude. Será magnífico. Estupendo. O romance contará, também, com um antagonista muito superior a nós, meros mortais, dotado de uma maldade sem medidas cabíveis, aliás, será a pura maldade, a essência do mal. Se tornará símbolo e referência dos atos maléficos; será adjetivo de tal substantivo. Só que não chegará aos pés do protagonista.

Revolucionarei a literatura de nossa época, meu amigo! Guarde essas palavras.

Não posso dar mais detalhes sobre a conjuntura desta obra que está por nascer, pois caso esta carta que lhe escrevo caia em mãos erradas colocará em risco toda a autenticidade desse romance. E me parece que será preciso de mais alguns anos para acabar esse livro e quem sabe de mais alguns autores a enriquecê-la, pois temo entregar as minhas faculdades mentais ao vento e sucumbir à total loucura sem nem ao menos acabar o primeiro capítulo. Que, aliás, já o intitulei de Gênesis... Nada mais sensível ao próprio nascimento desta invenção literária que está por vir. Mas não temas, pois ainda hei visitá-lo e ver a tua semente, agora germinada, em meus braços em tempos próximos. Diga a Maria que o nascimento de Emmanuel iluminou a minha mente, até então, mergulhada nas trevas.


Um grande cumprimento a você e aos teus, J.C.