sábado, 17 de abril de 2010

Quero solidão

Não sei. Eu quero um dia de sossego. Paz profunda das terras planas da Patagônia. Onde o Sol se esconde sobre as nuvens que nunca irão despencar. Eu quero o gritar sem ser ouvindo. Sem que ninguém me perturbe com perguntas sem respostas, com toda força de meus pulmões eu quero gritar as angustias enjauladas em meu peito. Quero expeli-las. Expulsá-las. Talvez assim essa dor passe. Quero ser jardineiro de rosas. Onde minhas únicas preocupações sejam as flores. Regá-las, adubá-las, mas jamais podá-las. Eu bem sei como isso dói. É como se uma parte de minha vida tivesse sido retirada sem a minha permissão. Aliás, eu vi tudo acontecer e nada fiz. Só deixei a lâmina rasgar levemente o meu sonho e separá-lo de mim. Desintegrá-lo. Restando só a dor. A tristeza. A lamentação. Li uma vez que A dor nos expõe. De fato, nos expõe o pior de nós mesmos. E o que nos machuca, realmente, é ter que encarar esse pior. Há um monstro dentro de mim que eu não consigo mais controlar. Sempre que me deixo levar pelos libertadores das mentes, ele se revela. Mostra os dentes, as garras, faz cara de segundas, terceiras e quartas intenções. E tudo é escuridão. Sempre que desperto e me livro dele, me encontro em um lugar distante, sem saber ao certo como fui parar lá. E vem o medo. Não por mim, mas pelos outros. As perguntas invadem a minha mente. Tenho reações distintas sobre a mesma impressão ao longo do dia. Tenho insônia. Maldita insônia. E tudo piora. A culpa me invade. Uma culpa que eu não sei se tenho. Evito perguntar aos outros. Encolho-me. Procuro me proteger e proteger os outros de mim. E a cada dia que passa esse monstro fica mais forte, maior, mas difícil de segurá-lo. Por isso quero sossego. Eu cansei. Não quero mais lutar. Quero libertá-lo e deixá-lo cansar-se de mim. Desistir de mim. Assim como eu desisti do meu sonho aquela vez. Por isso a Patagônia. Ouvi dizer que é pouco povoado por lá. Quem sabe se eu pegar uma trilha qualquer eu nada encontre. E com o nada eu posso conviver sem o pesar. E ter a paz que tanto procuro. E dar a paz a tantos outros que se preocupam à toa comigo. Talvez eu nem pense em voltar. E se pensar, que as montanhas a minha volta detenham o meu retorno. Duvido muito. Mesmo.