segunda-feira, 16 de agosto de 2010

My Dexter

E o frio corta-me os lábios. Sem dó nem piedade. E eu insisto caminhar. Sempre contra o vento. E sempre está escuro ou nublado. Noite de inverno, talvez. E sempre me encontro partindo de um ponto de ônibus. Talvez essa imagem seja tão nítida pelo fato de eu fazer várias vezes esse mesmo trajeto. Procuro os cigarros no bolso. Mas nem sei por quê fumo. Provavelmente seja o hábito do meu personagem. Percebo que prometi parar de fumar há muito tempo. Promessa daquelas que se descumprem eventualmente. Sou eventualmente demais. Sinto os eventos sem cores. E aqueles velhos tremores. Escutei em uma palestra que: visitar o passado com frequência é envenenar o presente. Palestras motivacionais são fodas, no mal sentido. Porque se você sai dali com aquele gás de que tudo agora irá dar certo, tudo irá mudar pra melhor e no fim nada acontece, você se fode. Afunda-se cada vez mais. Entrega-se. O suicídio nessas horas parece à única solução. É provável que seja, mas tudo é muito fácil. Insisto em dificultar. Talvez seja por causa dessa minha indiferença com tudo e todos. Dificulto para ver se vivo. E assim vou me matando. Aos poucos que é para ver se em algum momento eu respiro aliviado; ou conformado. “Coitado”, você deve estar pensando. Verdade. Mas mais coitado que eu só o indivíduo que está sobre a mesa preste a ser esquartejado.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Velha e boa infância

Prancha. Eu gostava do mar. Queria intimidade. De tanto, peguei uma infecção no ouvido. Hoje o mar me quer distante e eu só posso olhá-lo daqui da areia. Skate. Andei uma vez. Não andei. Voei! E a cara no chão foi parar. Nunca mais. Patins. Na minha época chamava-se Roller. Era correria. Divertia-me com as manobras e com os tombos. Descia ladeiras. Subia em corrimão. Saltava calçadas e pequenos muros. Mas o número 36 ficou pequeno. Eu fiquei grande demais. Foi-se o tempo e eu abandonei a radicalidade. Nunca quebrei nenhum osso. Mas há cicatrizes por todo o meu corpo. E eu olho pra elas com saudades desse tempo. Com uma nostalgia que transborda o peito. E a frase clichê me vem a mente. “Eu era feliz e não sabia”. Suspiro. Sorte minha não saber. Aproveitei assim. Talvez se eu ficasse sabendo não seria tão feliz. Por que? Talvez eu ficasse tão preocupado com o fim que não viveria o presente. Há coisas que é bom não ficar sabendo. Não se importar. Apenas viver. Ser simples. Ir vivendo conforme as circunstâncias. Gritar um tremendo FODA-SE a quem quiser escutar. E a quem não se importar, transformá-la amigo seu. Amigo meu. E criar novas lembranças. E lembrá-las nas raras reuniões com os velhos amigos em um bar qualquer. Aliás, naquele bar em que todos se encontravam. Ou na pistinha de roller e skate perto do ginásio perto da escola. Com algumas cervejas, é claro. Assim me aproximo mais das saudades. Álcool. Minha nova paixão. Hoje eu preciso dele mais do que poderia imaginar. Ele me acalma. Me faz lembrar e ao mesmo tempo esquecer. Calma! Não sou alcoólatra. Mas quem sabe um dia venha a ser. Assim terei mais histórias para contar. Mas isso é para uma outra hora. Porque agora eu vou ligar para os velhos amigos. Sair. Beber. E Relembrar. Ô tempo bom. Se por acaso eu não voltar, apareça naquele velho bar. Ou na pistinha de roller. Perto do ginásio perto da escola. E por favor não esqueça. Leve cerveja!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Simples assim

Eu quero uma viagem. Carro e dois amigos. Talvez três. Que dê para esticar as pernas. Carro sem teto. Gosto do vento. E que tenha céu limpo; sem nuvens carregadas. Lembrete: óculos. Com clássicos dos anos 80 e 90 como trilha sonora. E que seja pelo litoral. Não importa o destino. Gosto do vento, do sol e do mar. Juntos assim. Harmoniosamente como em uma pintura a óleo de algum artista ribeirinho qualquer. E que se parta pela manhã antes que o Sol nasça. Para que possamos pegá-lo de carona ao longo da estrada logo após o seu despertar sobre as águas. Quero momentos de silêncio e de risadas. Quero paradas em postos e botecos de beira de estrada. E nas praias. Sem hora marcada. Uma conversa aqui outra acolá. Amizade feita. Tipo de longa data. E se for um rabo de saia? Um dia ou dois a mais, mal não fará. Um dia quem sabe voltar, mas continuar seguindo. Assim, sem rumo. Sem tempo que nos prenda. Sem compromissos. Lembrete: Máquina fotográfica. Memória registrada. Lembrar de como foi bom. Das pessoas. Dos lugares. Para que o espírito, depois de velho, renasça. E que a vontade de reviver surja. E que se faça outra. E outra. Mas que seja pelo litoral. É só o que peço. E que o carro não tenha teto. Pois eu gosto do vento e do cheiro do mar.

sábado, 17 de abril de 2010

Quero solidão

Não sei. Eu quero um dia de sossego. Paz profunda das terras planas da Patagônia. Onde o Sol se esconde sobre as nuvens que nunca irão despencar. Eu quero o gritar sem ser ouvindo. Sem que ninguém me perturbe com perguntas sem respostas, com toda força de meus pulmões eu quero gritar as angustias enjauladas em meu peito. Quero expeli-las. Expulsá-las. Talvez assim essa dor passe. Quero ser jardineiro de rosas. Onde minhas únicas preocupações sejam as flores. Regá-las, adubá-las, mas jamais podá-las. Eu bem sei como isso dói. É como se uma parte de minha vida tivesse sido retirada sem a minha permissão. Aliás, eu vi tudo acontecer e nada fiz. Só deixei a lâmina rasgar levemente o meu sonho e separá-lo de mim. Desintegrá-lo. Restando só a dor. A tristeza. A lamentação. Li uma vez que A dor nos expõe. De fato, nos expõe o pior de nós mesmos. E o que nos machuca, realmente, é ter que encarar esse pior. Há um monstro dentro de mim que eu não consigo mais controlar. Sempre que me deixo levar pelos libertadores das mentes, ele se revela. Mostra os dentes, as garras, faz cara de segundas, terceiras e quartas intenções. E tudo é escuridão. Sempre que desperto e me livro dele, me encontro em um lugar distante, sem saber ao certo como fui parar lá. E vem o medo. Não por mim, mas pelos outros. As perguntas invadem a minha mente. Tenho reações distintas sobre a mesma impressão ao longo do dia. Tenho insônia. Maldita insônia. E tudo piora. A culpa me invade. Uma culpa que eu não sei se tenho. Evito perguntar aos outros. Encolho-me. Procuro me proteger e proteger os outros de mim. E a cada dia que passa esse monstro fica mais forte, maior, mas difícil de segurá-lo. Por isso quero sossego. Eu cansei. Não quero mais lutar. Quero libertá-lo e deixá-lo cansar-se de mim. Desistir de mim. Assim como eu desisti do meu sonho aquela vez. Por isso a Patagônia. Ouvi dizer que é pouco povoado por lá. Quem sabe se eu pegar uma trilha qualquer eu nada encontre. E com o nada eu posso conviver sem o pesar. E ter a paz que tanto procuro. E dar a paz a tantos outros que se preocupam à toa comigo. Talvez eu nem pense em voltar. E se pensar, que as montanhas a minha volta detenham o meu retorno. Duvido muito. Mesmo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

I'm home again

Hoje, 28 de Janeiro de 2010, eu abri esse blog depois de muito tempo. Reli alguns dos meus textos. Confesso, os meus dedos tremeram. Uma vontade súbita de me transformar em palavras me tomou novamente. Senti a minha mente trabalhar. Na verdade, GRITAR. É, ela sentiu tanta saudade desse espaço. Milhões de pensamentos me tomaram, fiquei até um tempo desacordado, embebecido nas cenas e nos diálogos. Então minha irmã me chama: hei, acorda! Parece um retardado ai. Ela, sempre com doces palavras, às vezes tem razão. A cabeça se esvaziou assim que eu pisquei os olhos. Isso está me incomodando muito. Não consigo reter uma linha lógica de raciocínio. Não consigo prender a minha atenção por mais de dois minutos em algo que eu esteja fazendo. Agora, por exemplo, tive vontade de escrever várias coisas, mas nada estruturado me veio. Estive na praia, na faculdade, nas festas, no trabalho que eu pretendo ter, nos sonhos que eu abandonei, nas carreiras que eu poderia ter seguido, nos complexos que eu me curei e naqueles que eu criei. É complicado. E com tudo isso para refletir, pensar e digerir, eu acabei optando pela funga. Usei a clássica, me afundei em livros e séries. Li uns quantos nessas “férias” e reli uns tantos outros. Tenho indicações de livros e séries para o ano todo. Mas eu, sinceramente, sei o que me afetou desse jeito. E isso não vem ao caso agora. Estou melhor agora e só estou aqui para dizer que voltamos: Eu, o meu Eu Lírico e o meu Alterego. E estamos com vontade de por nessas linhas tudo o que me vem acumulando na cabeça nesse tempo de ausência. Quem sabe assim eu volte a ter uma noite de sono tranquila como há muito tempo eu não tenho sem aquelas vozes me incomodando.