quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O orgulho permitiu-me chorar

Chegara cedo à festa para aproveitar o máximo de tempo ao lado dela. Buscava incessantemente encontrá-la em meio à pequena multidão que se formava. Enviara-lhe inúmeras mensagens no celular, dava-lhe toques, mas nenhuma resposta. Buscava saber, com seus amigos, se ela já havia chegado ou se alguém sabia do seu paradeiro. Perguntou as amigas dela, aos conhecidos e até os desconhecidos. Nada.

Pensava em não beber, não queria reviver o passado que tentava esquecer, mas estava muito nervoso e ansioso. Começou com cerveja, passou para o Cuba Libre e mais a frente já estava com uma garrafa de vodka enchendo um copinho de doses e virando rapidamente para a diversão dos que se encontravam junto a ele. Esquecera-se dela por alguns instantes. Soltou-se na festa. Riu, contou piadas, fez juras de amor aos seus amigos, fez as pazes com os “inimigos”, e até arriscou-se na pista de dança quando tocou Latino. Lembrou-se dela e olhou o celular que nenhuma resposta lhe deu.

Antes o que era expectativa e ansiedade tornou-se desapontamento e decepção. Sentiu-se ferido e ela nem ao menos lhe dera o motivo para tal apunhalada. Resolveu encontrar conforto em outros braços para esquecê-la e ao mesmo tempo vingar-se, de certo modo, pelo descaso que ela tivera com ele o tratando assim.

Aceitou, por tanto, os olhares maliciosos que lhe eram jogados e antes recusados. Uma, duas, três, quatro... Gurias. A melhor amiga dela. A prima dela. Ele seguia ficando com várias e bebendo o máximo que podia. Até o ponto em que não se agüentava mais em pé. Estava aos trapos. Derrubara bebida no chão, nos outros, em si mesmo. Havia extrapolado.

Sentado à mesa com alguns de seus amigos. Desabafara com a ajuda de uma tequila. Eles o apoiaram em unanimidade a sua atitude e o incentivaram a prosseguir. Foi ai que lhe surge o inesperado na festa. Ela estava na festa, o fitava a alguns metros de sua mesa. No lado esquerdo encontrava-se a prima e no direito a melhor amiga sussurrando ao pé do ouvido dela. Esmigalhando-o para ela, transformando-o em um ser deplorável. Agora tudo estava mais claro e justificável.

Era tudo um teste. Um maldito teste. E ele falhara. Foi pego pela ratoeira como se fosse um inocente e irracional ratinho atrás de queijo. O plano “desmascara canalhas” havia cumprido seu papel. E ele sentia-se assim: um canalha, um zero a esquerda, um qualquer para ela. A única mulher pelo qual se apaixonara em toda a sua vida inundava-se em lágrimas e sinais de desaprovação por causa do orgulho besta que ele insistia em manter e reviver. Por querer se mostrar aos amigos, aos que o admiravam pelo o que um dia ele fora, o velho garanhão.

Arrancou a garrafa de tequila de cima da mesa e saiu andando meio cambaleante sem, nem ao menos, olhar para ela mais uma vez. Sentiu-se muito envergonhado e humilhado.

Tinha os pés descalços sobre a areia úmida da praia. Chovia o suficiente para que o mar quebrasse com violência suas ondas no costão de pedras. Par de All Star atirado metros atrás, paletó sobre os ombros, gravata desfeita e óculos presos no pescoço, garrafa de tequila barata na mão. Esperara ela a noite toda, assim como sua vida inteira e não a tinha. Sobrara-lhe somente o seu orgulho ferido, que o amava mais do que qualquer outra pessoa, que o confortava nessas situações. Mas a imagem dela era mais forte em sua mente e em seu coração do que o seu sentimento mesquinho e egoísta. No seu rosto as lágrimas se misturavam com as gotas de chuva. Pela primeira vez ele abandonara o orgulho para sentir a dor de perder um amor.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O prelúdio da florescência

Tocava em seu rosto com uma delicadeza imensurável. Via-se afogando no oceano de seus olhos verdes. Piscava somente no limite da ardência de suas retinas. Procurava entender tal domínio que ela exercia sobre si sem deixar de acariciá-la ao menos um instante. Não falava nada. Ela também não. Apenas se olhavam, profundamente, como se atravessassem as camadas superficiais de tecidos e órgãos dos seres terrenos e se deslumbrassem com a relíquia faltante de suas almas incompletas. Ela com mais doçura e fascínio do que ele que sempre teve o rosto fechado, deprimido e frio.

Não sorria para ela, pois não sabia sorrir. Não compreendia a recessão de seu cérebro na presença dela, a balbúrdia de sensações que se manifestavam incontroladamente. Sentia-se nu perante a uma multidão de espectadores. Paralisado. Com medo.

Ela, de repente, procurou aproximar seus rostos. Ele, de súbito, assustou-se e retrocedeu. Ela insistiu e ele sentiu que o seu coração disparara velozmente em seu peito, mais do que antes estava, com esse simples movimento. Mas não resistiu a tamanha doçura e permitiu.

Ela fechou os olhos e descolou os lábios. Ele continuava vislumbrando-a enquanto mantinha sua boca frouxa, pois sua mandíbula insistia em tremer. Já sentia a respiração dela chocar-se com sua face tremula. Já conseguia escutar o coração dela tão descompassado quanto o seu. Tinha receio e ao mesmo tempo vontade. Uma vontade de tudo e uma vontade de nada. Não sabia ao certo o que fazer, pois era a primeira vez que se deparara assim tão impotente, tão limitado, tão submisso e entregue a alguém.

Roçaram-se os lábios ásperos. As línguas incumbiram-se de umedecê-los rapidamente para que o balé segui-se o roteiro harmoniosamente. Ele já não tinha mais os olhos abertos e sua boca seguia o ritmo imposto por ela. Ritmo ao qual se intensificava a cada novo giro de pescoço ou a cada toque compressor de pele e carne.

O sinal toca, despertando os dois do transe em que se encontravam. Os dois afastam seus rostos levemente. Fitam-se por alguns instantes. Ele finalmente sorri, um pouco timidamente. Ela também. Afastam seus corpos lentamente segurando as mãos um do outro. Largam-se. Ele segue caminhando para trás sem desviar o olhar dela. Acenam-se tímidos. Ela vira-se de costas para ele e corre para a sala da quinta série enquanto ele abaixa-se para amarrar os cadarços antes de juntar-se aos seus colegas na quarta série.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Psicopatia, Efêmera Lucidez

Fumando um cigarro sentado na cama, tentava acalmar-se para que as dores de cabeça cessassem. Olhava vez ou outra, pela janela aberta, a chuva fina que insistia em durar a madrugada toda. Levantou-se e apoiou-se na parede e ficou de frente para a janela, buscando um pouco de ar fresco. Com o olhar fixo lá fora, sussurrava para si interrogações e palavras de insulto. Errara mais uma vez e não soubera como.

Na cama ela jazia. Ele perguntava-se como teriam se conhecido. Tentava buscar na memória algum fato, ato, ou qualquer coisa que o levasse a alguma conclusão aceitável. Nada lhe vinha. Aliás, toda a vez que insistia em pensar sua cabeça manifestava-se contra, rapidamente, com fortes dores temporais.

Afastou-se da janela e buscou olhar para a mulher em sua cama. Ruiva de pele muito branca. Estava nua. Ele já desconfiara que haviam feito sexo, pois também estava nu. Mas nem disso, realmente, se lembrava. Sugeriu a si estar muito bêbado no momento que acontecera isso explicaria a sua dor de cabeça e sua perda de memória recente.

Começou a vasculhar as roupas atiradas por toda a parte. Encontrou as suas e vestiu-se. Achou, também, a calça dela e resolveu buscar por respostas. Retirou a carteira do bolso traseiro e vasculhou os documentos. Patrícia era o seu nome. Não via nenhuma imagem dela, em sua mente, dizendo o nome a ele. Começou, a partir de então, devanear sobre aquilo, insinuando que ela teria utilizado um nome falso, mas nem se quer do nome falso ele conseguia se recordar.

Aconteceu de novo – disse a si mesmo. Procurou manter-se contido, ânimos brandos. Foi em vão. Ajoelhou-se perante a mulher. Inundou-se em lágrimas e o desespero tomou conta de si. Batia com os punhos serrados em seus joelhos enquanto vislumbrava o corpo privado de vida que lhe tinha diante dos olhos.

Julio alimentava o monstro da loucura enquanto saciava outro. Tornara Patrícia a sua quinta vítima em um mês. Fazia-se psicopata... Como os jornais já o denominavam, "O maníaco das ruivas de B.Camboriú".

Naquela noite, Julio, atirara-se do sexto andar.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Espumante rosé e alguns cigarros

Sabia que a conversa havia terminado assim que atirou seu cigarro dentro da taça de vinho. Corpos se entrelaçando sobre o tapete da sala de estar. O sofá já era pequeno demais. Sussurros de palavras fortes ao pé do ouvido. Palavras que se envergonharão de ter dito, na manhã seguinte, assim que acordarem. Mas naquela noite nada os prendia na superficialidade de seus personagens rotineiros. Talvez fosse a liberdade cedida pelo vinho, pelos cigarros ou pela conversa cheia de risadas e toques. Não! Os dois estavam ali cheio de segundas intenções desde o começo. Já sabiam o que queriam e tratavam de entorpecer um ao outro para que o objetivo final fosse mais rápido e bem sucedido: “Mais um pouco de vinho?”, “Aceita um cigarro?”. Eram egoístas, mas, naquele momento, emprestavam seus corpos um ao outro para atingirem aquilo que buscavam. Sentiam a necessidade de fazerem juntos, nada de uma ação solitária, mesquinha e, até mesmo, deprimente. Permitiam que o outro também sentisse e alcança-se. Era o mínimo – pensavam – que deveriam fazer pelo empréstimo que lhes foi dado. Seria o pagamento simultâneo da dívida recém feita.

Eram isentos de pudor, mas respeitavam-se. Ela não se importava com a calvície dele e nem com sua barriga acentuada. Ele, por sua vez, já não notara mais os óculos dela, nem seus cabelos revoltosos e seus pneuzinhos. E assim, sincronizados com John Lennon, seguiam dançando a intemperança do desejo carnal, sucumbindo, cada vez mais, à desilusão amorosa que viviam.

sábado, 4 de outubro de 2008

A cruz de malta em meu peito

Sempre estarei ao teu lado. Dando-lhe ânimo para seguir lutando e sempre teu nome gritando, com toda a força de meus pulmões fracos e limitados. Na alegria que me inflamas nas vitórias e nas conquistas sofridas, ou não, te entrego meu coração com toda a minha devoção, Clube de Regatas Vasco da Gama. E agora, nesse momento tão crítico, eu me ajoelho e suplico a todos os meus irmãos que sempre te seguiram e que nunca te abandonarão: Vamos, não desistamos do que ainda não foi consumado, lutemos por nosso clube de tantas glórias do passado. Ergam-se porque ainda há esperança e não ruínas da derrota. Façamos o possível e tudo o que nos é cabível para não cairmos nesta grota. Por momentos mais difíceis já passamos e todos esses nós prevalecemos. É só mais um obstáculo a ser superado para que ano que vem possamos lutar por um título digno e honrado.

Tu és a Cruz de Malta que bate no lugar do meu coração. Nunca te abandonarei, meu querido e amado Vascão!