segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Summer Time

E a insônia me persegue. Atormenta. Irrita e acorda os demônios enjaulados. E eu fujo. Fujo do meu corpo. Para bem longe. Busco o som do mar nas rochas. O calor em minha face branca e de barba cerrada. A brisa leve de assobio ao léu. O som do violão dedilhado com gentileza e maestria. Saudades das tardes de sol, da cama e da despreocupação, aquele velho dia-a-dia. Tardes de sono acordado ao som do vento na janela branca entreaberta. Do livro muitas vezes lido ao lado do meu corpo estendido sobre o edredon. E aquela eterna espera sem nenhuma pressa pelo desejo de levantar. Saudades da solidão criativa. Talvez até da solidão sofrida; sozinha. Do copo de cerveja no bar sem nome em meu peito. Mas assim, diriam os analistas, eu não seria feliz direito. Mas quem realmente é? Eu só quero o que o tempo me tomou por crescer; por longa data. O regresso de uma alma à sua época. Eu quero o fim do termo saudade. Eu quero a paixão de certa idade. Eu quero tudo, tudo outra vez.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Dois amores e o erro

A carne queima igual brasa de lenha seca. A cada fechar de olhos um batuque infernal inunda os ouvidos cansados. A vista queima também, arde, lacrimeja, pressiona o cérebro contra a nuca. O sorriso é amarelo, sem contorno, sem vida. Na realidade não há sorriso, é apenas uma expressão vazia; de nada. Toda a carcaça está abalada, fraca. Um sopro e despenca ao infinito do poço. Sem retorno. Sem grito de desespero. Só o zunido do vento sobre a massa semi-falecida. Só lhe resta o desejo de calmaria; o silêncio. Mas falta-lhe forças para buscar o sossego. A cama torna-se montanha cercada por abismos. E o lembrar é tortura para a consciência recém retomada. E tudo se agrava ao ver, no escuro das imagens fragmentadas, os olhos dela cheio de lágrimas. Tudo fica mais pesado. Tudo fica mais humano. Agora o levantar-se ficou mais penoso, mais indesejável. A garganta seca clama por água. Os olhos fornecem somente a salgada. E chega o inferno da lucidez e sobrepõe à maldita ressaca.