terça-feira, 14 de julho de 2009

O que eu faço, Seu doutor?


- E o sangue ainda quente em minhas mãos fez-me ranger os dentes, trancar a respiração, enxergar os escuros do quarto mais nítidos do que toda a luz que emanava pela janela. A dor inicial já não importava mais, mas o sangue sim. Só o sangue em abundância que importava. O pavor me dominou, os sentidos me abandonaram e a luz se apagou. E na minha primeira vez eu desmaiei e descobri que tinha, e tenho, hermatofobia. E agora toda a vez que eu e o meu namorado estamos, o senhor sabe... transando, eu acabo desmaiando por lembrar do ocorrido. Para ele tanto faz, aquele canalha, porque quinze minutos é mais tranquilo do que duas horas. Mas o que me preocupa não é ter que atingir o orgasmo sozinho, doutor, mas é ser violada por trás na hora em que eu desmaiar. O senhor entende, ? Anal. Por isso tenho evitado dormir com ele. E ele não suporta mais isso, me disse que está revendo nosso relacionamento. Pediu um tempo, sabe? E eu o amo, doutor, sei que ele me ama e não quero perdê-lo. E tenho medo que ele esteja já me traindo com outra. O que eu faço, Seu doutor?

- Terapia!

- Terapia!?... Ah, para perder o medo de sangue? É isso, doutor?

- Não, para perder esse medinho besta de dar a bunda. Porque, sinceramente, todo homem sonha em ter uma mulher, assim, como a senhora: bonita, sexy, que não se preocupa em atingir o orgasmo sozinha e que desmaia na hora do sexo. Seu namorado, um cara de sorte. Não será eu, e a senhora me desculpe, que irá estragar tudo isso. E se a senhora o ama e quer que ele continue a amando, faça o que eu digo: procure um terapeuta!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

To minutes to midnight

[…]Blackened pride still burns inside

This shell of bloody treason

Here's my gun for a barrel of fun

For the love of living death…


Acelera! E as risadas eram altas. A chuva era forte. O piloto era bom, mas estava sob pressão e alcoolizado. Os amigos não eram dos melhores também; do tipo “pilhadores” - Dale dale dale. Falta um minuto para a música acabar, vai. A chuva já não era forte, mas a pista já não era seca. E a última curva foi feita sem frear. A Joinville de maracujá apertada sobre o peito prevendo o pior. E o pior veio. Não do lado em que o carro ia se perdendo na curva. Mas do outro em que foi puxado para se salvar. Não bateu onde ia bater – bateu onde não deveria bater. Onde parecia impossível. Coisa do demônio. Só pode! Todos ilesos. Menos o carro. Perda total? Não sei, pensei em salvar só a Joinville. Ainda bem que a salvamos. Serviu-nos de consolo após a tragédia. Tragédia? Mas não ficaram todos bem? Sim, menos o carro. Então por que tragédia? 600 reais de franquia. Mas pense comigo: Poderia ter sido alguém no lugar do meio fio, uma criança quem sabe, e isso sim seria uma tragédia. Mas às quatro da manhã? Sei lá, eu já não discuto mais isso.


[…]The body bags and little rags of children

Torn in two,

And the jellied brains of those who remain

To put the finger right on you…


E agora? Tudo na mesma. Sério? Sim, não há mais nada o que fazer. Ah, lógico, vai ficar a lição e o blá-blá-blá que tomaremos mais cuidado, pelo menos na hora de dirigir. Mas ninguém vai parar de beber e criar consciência puritana por causa disso. São coisas que acontecem. E a vida segue. E então? Então o quê? Ainda tem Joinville? Acho que sobrou meia garrafa. Vamos lá? Não sei... só se for a pé. Beleza!


Midnight...Midnight...Midnight...is all night.