segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O prelúdio da florescência

Tocava em seu rosto com uma delicadeza imensurável. Via-se afogando no oceano de seus olhos verdes. Piscava somente no limite da ardência de suas retinas. Procurava entender tal domínio que ela exercia sobre si sem deixar de acariciá-la ao menos um instante. Não falava nada. Ela também não. Apenas se olhavam, profundamente, como se atravessassem as camadas superficiais de tecidos e órgãos dos seres terrenos e se deslumbrassem com a relíquia faltante de suas almas incompletas. Ela com mais doçura e fascínio do que ele que sempre teve o rosto fechado, deprimido e frio.

Não sorria para ela, pois não sabia sorrir. Não compreendia a recessão de seu cérebro na presença dela, a balbúrdia de sensações que se manifestavam incontroladamente. Sentia-se nu perante a uma multidão de espectadores. Paralisado. Com medo.

Ela, de repente, procurou aproximar seus rostos. Ele, de súbito, assustou-se e retrocedeu. Ela insistiu e ele sentiu que o seu coração disparara velozmente em seu peito, mais do que antes estava, com esse simples movimento. Mas não resistiu a tamanha doçura e permitiu.

Ela fechou os olhos e descolou os lábios. Ele continuava vislumbrando-a enquanto mantinha sua boca frouxa, pois sua mandíbula insistia em tremer. Já sentia a respiração dela chocar-se com sua face tremula. Já conseguia escutar o coração dela tão descompassado quanto o seu. Tinha receio e ao mesmo tempo vontade. Uma vontade de tudo e uma vontade de nada. Não sabia ao certo o que fazer, pois era a primeira vez que se deparara assim tão impotente, tão limitado, tão submisso e entregue a alguém.

Roçaram-se os lábios ásperos. As línguas incumbiram-se de umedecê-los rapidamente para que o balé segui-se o roteiro harmoniosamente. Ele já não tinha mais os olhos abertos e sua boca seguia o ritmo imposto por ela. Ritmo ao qual se intensificava a cada novo giro de pescoço ou a cada toque compressor de pele e carne.

O sinal toca, despertando os dois do transe em que se encontravam. Os dois afastam seus rostos levemente. Fitam-se por alguns instantes. Ele finalmente sorri, um pouco timidamente. Ela também. Afastam seus corpos lentamente segurando as mãos um do outro. Largam-se. Ele segue caminhando para trás sem desviar o olhar dela. Acenam-se tímidos. Ela vira-se de costas para ele e corre para a sala da quinta série enquanto ele abaixa-se para amarrar os cadarços antes de juntar-se aos seus colegas na quarta série.

3 comentários:

Lucas Coppi disse...

ta mudadno de fase ou é impressao?
aseasheoiasoeasoieas
nao fica contando a tua vida ai po, nao tem graça ! hahaha
ta escrevendo muito fera, muito mesmo! (e nao to falando de quantidade)
abraçao

Sílvia Mendes disse...

Muito legal o tema, adorei o modo como foi abordado. O título dessa vez tbm ficou nos trinks ;)

Tamara disse...

Hmm, ela é mais velha? :)
Adorei o texto, Léo. Achei bem sensível, calmo. Muito gostoso de ler. Pena que nem todos os primeiros beijos são assim!

Abraço.