E o frio corta-me os lábios. Sem dó nem piedade. E eu insisto caminhar. Sempre contra o vento. E sempre está escuro ou nublado. Noite de inverno, talvez. E sempre me encontro partindo de um ponto de ônibus. Talvez essa imagem seja tão nítida pelo fato de eu fazer várias vezes esse mesmo trajeto. Procuro os cigarros no bolso. Mas nem sei por quê fumo. Provavelmente seja o hábito do meu personagem. Percebo que prometi parar de fumar há muito tempo. Promessa daquelas que se descumprem eventualmente. Sou eventualmente demais. Sinto os eventos sem cores. E aqueles velhos tremores. Escutei em uma palestra que: visitar o passado com frequência é envenenar o presente. Palestras motivacionais são fodas, no mal sentido. Porque se você sai dali com aquele gás de que tudo agora irá dar certo, tudo irá mudar pra melhor e no fim nada acontece, você se fode. Afunda-se cada vez mais. Entrega-se. O suicídio nessas horas parece à única solução. É provável que seja, mas tudo é muito fácil. Insisto em dificultar. Talvez seja por causa dessa minha indiferença com tudo e todos. Dificulto para ver se vivo. E assim vou me matando. Aos poucos que é para ver se em algum momento eu respiro aliviado; ou conformado. “Coitado”, você deve estar pensando. Verdade. Mas mais coitado que eu só o indivíduo que está sobre a mesa preste a ser esquartejado.
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Há 8 meses
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