quinta-feira, 19 de março de 2009

O maior romance de J.C.

Caro José,

A pena já não mais se encontra abandonada, residente, sobre o papiro amarelado; envelhecido. A inspiração voltou e com ela um sonho se fez na noite anterior. E nesta manhã os traços seguem-se na harmonia da voz vigorosa que dita as palavras em tom facundo. Voz de pessoa autoritária, mas calma, de caráter enriquecedor e sábio. A mão já não é mais um membro pertencente ao braço, ela tornou-se extensão dos pensamentos e das palavras reverberadas com insistência pela voz na minha mente enlouquecida de escritor fajuto. Um romance está para nascer e sem um pingo de humildade se tornará o mais lido em todo o mundo; o mais vendido; o mais discutido e mais questionado. Atravessará os anos, talvez centenas de anos, quem sabe até os milênios se a humanidade assim perdurar e perpetuará com ela. Será alento de muitos escritores e de, praticamente, toda a humanidade. Terá os seus opositores, mas isso só engrandecerá ainda mais a minha obra. Não penses que devaneio sobre isso, pelo contrário, se me encontro nesse estado de euforia é porque sabes que tenho certeza daquilo que será.

Um romance que contará com um personagem ao qual se lembraram e o tomaram como fonte de inspiração e, porque não, exemplo. Será nosso semelhante, porém superior; inigualável. Diria quase um Deus. Em que todos se espelharão e tentarão alcançá-lo em plenitude. Será magnífico. Estupendo. O romance contará, também, com um antagonista muito superior a nós, meros mortais, dotado de uma maldade sem medidas cabíveis, aliás, será a pura maldade, a essência do mal. Se tornará símbolo e referência dos atos maléficos; será adjetivo de tal substantivo. Só que não chegará aos pés do protagonista.

Revolucionarei a literatura de nossa época, meu amigo! Guarde essas palavras.

Não posso dar mais detalhes sobre a conjuntura desta obra que está por nascer, pois caso esta carta que lhe escrevo caia em mãos erradas colocará em risco toda a autenticidade desse romance. E me parece que será preciso de mais alguns anos para acabar esse livro e quem sabe de mais alguns autores a enriquecê-la, pois temo entregar as minhas faculdades mentais ao vento e sucumbir à total loucura sem nem ao menos acabar o primeiro capítulo. Que, aliás, já o intitulei de Gênesis... Nada mais sensível ao próprio nascimento desta invenção literária que está por vir. Mas não temas, pois ainda hei visitá-lo e ver a tua semente, agora germinada, em meus braços em tempos próximos. Diga a Maria que o nascimento de Emmanuel iluminou a minha mente, até então, mergulhada nas trevas.


Um grande cumprimento a você e aos teus, J.C.

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