sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A partida do protagonista


Quando eu pensar em ir embora, não me venha com pedidos de perdão, suplicas e novas promessas falsas. Isso não me fará ficar. Quando eu comprar a passagem para a terra dos andarilhos sonhadores, não me venha com histórias de que virá junto, de que lá podemos ser felizes, recomeçar a escrever o nosso romance. Ele não deixará. Quando eu estiver embarcando no trem, não venha se despedir de mim. Não estrague o belo que levo de você. Permita-me buscar os sonhos que abandonei, permita-me seguir até o final deste livro. Quando eu o desbravar, talvez eu retorne e possamos nos rever. Sei que não aceitarás e, possivelmente, não esperarás por minhas incertezas.
Caso me pegue pensando em você, assim, por acaso, ligarei e direi que sinto saudades. Perguntarei: como estão as coisas? Se você está bem e se também sente saudades... E direi que ainda a amo. Tenha certeza de que eu te amo. Que nada foi em vão. E que só faço isso porque não tenho escolha. Eu compreendo, pois ele me escolheu para ser protagonista, para carregar o fardo do abandonar, mas, também, a incumbência de passar uma mensagem, um sentido, um sentimento, algo maior que eu. Pense, quantos sonhos você deixou ao acomodar-se com a nossa situação?... Não, eu não posso ser o seu sonho. Pense! É difícil, não é? Faz tanto tempo que esquecemos quem realmente somos ou quem, realmente, queríamos ser. Os papeis não podem ser invertidos ou trocados, temos que buscar o que nos foi fadado, espero que me compreendas.
Não chore! O Final do nosso romance já está rabiscado. E, pelo o que eu noto, o autor não mudará o desfecho. Não se comoverá com nós dois, não acreditará no nosso amor e não fará um final feliz clichê. Pertencemos a ele. Eu, sinceramente, não queria isso para nós dois e não desejaria isso a ninguém. Mas enquanto não são passados a limpo os seus rascunhos, vem cá! Abraça-me com força e beija-me, quero sentir tua pele, o teu calor, com todo o teu amor. Com todo o nosso amor. Aproveitemos as nossas últimas páginas juntos. Sinta meu coração descompassar junto ao seu, provavelmente pela última vez.
Despeço-me de ti enquanto ainda há tempo. Partirei para os capítulos seguintes esperando te encontrar em algum outro volume, talvez em alguma outra história, pois nosso amor não pode acabar assim. Em um conto sem um final feliz.

Um comentário:

Sílvia Mendes disse...

Realmente estou viciada. Nele e nos contos (com ou sem final feliz). Gostei dessa carta. Adoro cartas ^^