terça-feira, 5 de agosto de 2008

O brilho do outro lado da cama

O Sol apareceu em minha janela. Entrou sorrateiro, como se não quisesse ser visto. Espreitou-se por um fino canal de luz em uma fresta do blecaute. Fitou iluminar a cama e, somente, a cama. Procurei esse raio de sol com a mão, mas eu não alcançava. Deitado, tateei ao vento e nada. Sentei-me na cama assustado, por que não alcançara a luz tão próxima de mim? Lembrei-me, são as minhas pernas. Elas não se dobram. Estão amarradas a um destino imposto por terceiros e que nada posso fazer para desatar os nós. Por isso não alcanço a luz, só a deslumbro de longe iluminando a cama.
A claridade aumenta, mas o meu lado da cama continua escuro, sombrio, gélido. Puxo as cobertas para cima de mim, porém o frio não vem de fora. Está dentro de mim. Estou cansado de tentar desamarrar as minhas pernas. Talvez eu devesse apenas me deitar e admirar a luz perto de mim que é impossível de tocar, impossível de sentir o seu calor, de ter o seu brilho me envolvendo. Aguardo o envelhecimento dessas cordas. Talvez, assim, elas possam ceder me libertando para o encontro da luz. Aquecer-me, iluminar-me, pois o Sol sempre esteve ali, assim, para mim como para todos.

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