domingo, 21 de setembro de 2008

O eu-lírico sufocante

Sinto vontade de caminhar sob a chuva, mas sem guarda-chuva. Pés nus sobre a terra sentindo cada incômodo grão de areia e cada buraco ao pisar rijo o solo. Sem camisa. Sem calças. Completamente nu. Sentir por completo a chuva me banhar em suas águas. Lavar a alma inexistente em meu ser. Lavar a cápsula corpórea de minha alma. Caminhar de olhos fechados sem ter o que temer. Quero um lugar sem casas, sem muros, sem ruas cinza, sem postes, sem qualquer ligação com a civilização. Um lugar inóspito. Talvez só uma linha de trem abandonada onde o mato já teria nascido e subjugado sua onipotência urbana. Seria a minha referência. Algo que servisse para eu não me esquecer das terras passadas, do caminho que me levou até ali e de o porquê seguir caminhando. Deveria ter muitas árvores ao longe, que eu seguisse e nunca conseguisse alcançar. As gramíneas deveriam reinar nessas planas terras achatadas. Que cobrissem os pedregulhos sob os pés e ocultasse as criaturas almáticas. Lá choveria sem que o céu escurecesse, sem raios e sem trovões. Haveria o azul do céu, o branco das nuvens, o verde das folhas, o brilho do sol, a sombra das árvores... Nada de cinza, nada de preto. Os trilhos do trem seriam roxos. Eu estaria só, assim como Zaratustra em sua montanha. E lá buscaria e encontraria as minhas respostas assim como ele encontrou as suas.

Cesso esse meu lirismo barato e depressivo e retorno a realidade nua e crua do existencialismo humano. Vou estudar, preciso passar no vestibular, senão minha cabeça ao chão irá rolar.

Um comentário:

Tamara disse...

Não ande pelado pelas ruas porque isso não é muito bem visto nessa nossa sociedade. :)
haha

Brincadeira, Léo!
Sabe o que eu gosto nos seus textos? A riqueza de detalhes. São muito bons!

Beijos