sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O que os olhos não veem

O vento rompe a janela e castiga-me com a chuva violenta que trás consigo. O choque em meu peito suado me faz buscar calor na posição fetal. Encolho-me junto às pernas abraçando-as. A cabeça estremece buscando abrigo junto ao peito nu. O único ouvido que me resta inebriasse ao som ensurdecedor dos raios e trovões. Sinto-me indefeso, acuado.

A tempestade maltrata a plantação de trigo nos campos adjacentes ao celeiro. As porteiras e as cercas de madeira não são fortes o suficiente e perecem frente ao caos que se instala. Sinto não poder fazer nada para salvar aquilo que tanto tempo levei para construir.

A minha fraqueza vem à tona e trás consigo o medo da vulnerabilidade e a tremedeira compulsiva. O choro surge como um convidado inconveniente, porém confortador. As lágrimas misturam-se com a água que escorre de meus cabelos ao rosto. O queixo treme, frio e choro unem-se.

O cheiro de morte estoura as portas frágeis do celeiro, entra sorrateiro pelas minhas fossas nasais e inunda os meus pulmões. A podridão embrulha-me o estomago. Sem conter, o jorro de vômito e outras secreções espalham-se sobre meus joelhos e escorrem para a palha úmida junto aos meus pés. “Os animais que eu não consegui salvar”.

Os poucos que salvei, estão aqui comigo. Em total silêncio. Como se estivessem se escondendo da Morte que paira sobre nossas cabeças e meio as Trevas que consomem o gado e tudo o mais lá fora.

Já não sei quanto tempo se passou desde que a tempestade começou, talvez só horas ou talvez dias. Não sei. Só aguardo o seu término em silêncio com o choro contido. Para que eu possa derramar as minhas lágrimas sobre os escombros e procurar nas cinzas a semente revigorada. E recomeçar, com ela, rijo e mais forte a reconstruir o sonho despedaçado.

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