Chegara cedo à festa para aproveitar o máximo de tempo ao lado dela. Buscava incessantemente encontrá-la em meio à pequena multidão que se formava. Enviara-lhe inúmeras mensagens no celular, dava-lhe toques, mas nenhuma resposta. Buscava saber, com seus amigos, se ela já havia chegado ou se alguém sabia do seu paradeiro. Perguntou as amigas dela, aos conhecidos e até os desconhecidos. Nada.
Pensava em não beber, não queria reviver o passado que tentava esquecer, mas estava muito nervoso e ansioso. Começou com cerveja, passou para o Cuba Libre e mais a frente já estava com uma garrafa de vodka enchendo um copinho de doses e virando rapidamente para a diversão dos que se encontravam junto a ele. Esquecera-se dela por alguns instantes. Soltou-se na festa. Riu, contou piadas, fez juras de amor aos seus amigos, fez as pazes com os “inimigos”, e até arriscou-se na pista de dança quando tocou Latino. Lembrou-se dela e olhou o celular que nenhuma resposta lhe deu.
Antes o que era expectativa e ansiedade tornou-se desapontamento e decepção. Sentiu-se ferido e ela nem ao menos lhe dera o motivo para tal apunhalada. Resolveu encontrar conforto em outros braços para esquecê-la e ao mesmo tempo vingar-se, de certo modo, pelo descaso que ela tivera com ele o tratando assim.
Aceitou, por tanto, os olhares maliciosos que lhe eram jogados e antes recusados. Uma, duas, três, quatro... Gurias. A melhor amiga dela. A prima dela. Ele seguia ficando com várias e bebendo o máximo que podia. Até o ponto em que não se agüentava mais em pé. Estava aos trapos. Derrubara bebida no chão, nos outros, em si mesmo. Havia extrapolado.
Sentado à mesa com alguns de seus amigos. Desabafara com a ajuda de uma tequila. Eles o apoiaram em unanimidade a sua atitude e o incentivaram a prosseguir. Foi ai que lhe surge o inesperado na festa. Ela estava na festa, o fitava a alguns metros de sua mesa. No lado esquerdo encontrava-se a prima e no direito a melhor amiga sussurrando ao pé do ouvido dela. Esmigalhando-o para ela, transformando-o em um ser deplorável. Agora tudo estava mais claro e justificável.
Era tudo um teste. Um maldito teste. E ele falhara. Foi pego pela ratoeira como se fosse um inocente e irracional ratinho atrás de queijo. O plano “desmascara canalhas” havia cumprido seu papel. E ele sentia-se assim: um canalha, um zero a esquerda, um qualquer para ela. A única mulher pelo qual se apaixonara em toda a sua vida inundava-se em lágrimas e sinais de desaprovação por causa do orgulho besta que ele insistia em manter e reviver. Por querer se mostrar aos amigos, aos que o admiravam pelo o que um dia ele fora, o velho garanhão.
Arrancou a garrafa de tequila de cima da mesa e saiu andando meio cambaleante sem, nem ao menos, olhar para ela mais uma vez. Sentiu-se muito envergonhado e humilhado.
Tinha os pés descalços sobre a areia úmida da praia. Chovia o suficiente para que o mar quebrasse com violência suas ondas no costão de pedras. Par de All Star atirado metros atrás, paletó sobre os ombros, gravata desfeita e óculos presos no pescoço, garrafa de tequila barata na mão. Esperara ela a noite toda, assim como sua vida inteira e não a tinha. Sobrara-lhe somente o seu orgulho ferido, que o amava mais do que qualquer outra pessoa, que o confortava nessas situações. Mas a imagem dela era mais forte em sua mente e em seu coração do que o seu sentimento mesquinho e egoísta. No seu rosto as lágrimas se misturavam com as gotas de chuva. Pela primeira vez ele abandonara o orgulho para sentir a dor de perder um amor.