quinta-feira, 31 de julho de 2008
Domingo chuvoso
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Caixa de recordações
Uma forte dor me arrebatou há poucos instantes e ainda estou sofrendo porque ela insiste em prolongar. Uma dor que não sentira nas surras que levei de meu pai quando pequeno. Nem quando perdi alguns parentes para acidentes e doenças. Uma dor em meu peito. No coração – "Seu coração está fraco, seu João. Evite se expor a fortes emoções." – foi à advertência que o Doutor Paulo me fez em nossa última consulta.
Peguei-me vendo umas fotos antigas, de amigos, parentes e "irmãos". Remexendo o passado. Vendo o quanto eu era feliz. Sim eu era. Não me enquadro, no momento, em nenhum status de felicidade. Eu, hoje, não sou feliz. Acho que até por isso que esta dor quase me nocauteou. Foi como um soco no estômago e uma joelhada na cabeça. Deixou-me embrulhado, tonto.
Quem sabe é porque eu estou ouvindo uma música triste do Johnny Cash, já é madrugada, está chovendo e ver essas fotos mexeu com o meu emocional. Aos 67 anos, tudo que me remete ao passado me deixa assim neste estado melancólico.
Talvez seja por eu estar passando por uma fase um tanto solitária em minha vida. Após a morte de Clara, nunca mais sorri sinceramente. Eu nunca a amei como fui amado. Ela nunca foi o meu verdadeiro amor, mas foi uma excelente companheira nesses anos que passamos juntos. Ela sabia que eu não a amava profundamente e mesmo assim insistiu comigo.
Sem amores verdadeiros, mas mulheres para saciar meu desejo carnal não me faltavam até, o cartão estourar. Sem amigos, conhecidos para tomar uma cerveja sempre existiram e se você pagasse apareciam tantos. Sem apoio familiar, por mais que eu tenha construído uma família com grande sacrifício, sustentando-a por muitos anos, e vivido com ela por grande parte da minha vida. Meus filhos não me visitam aqui no centro de repouso a alguns meses. Sinto-me um lixo. Sinto falta de algo. Sou infeliz.
Parece que eu não estou dando valor a nada, que eu não me importo. Mas não é verdade. É até por isso que estou a sentir tanta dor. Por me importar, por dar valor. Por querer de volta uma vida que me foi tomada, estar em um lugar onde eu era admirado, bem querido por todos – ou pela maioria. Onde eu via o meu único amor, a mulher que eu queria como mãe de meus filhos, nos braços de Carlos. Maldita covardia, tudo poderia ter sido diferente.
Mas as fotos. As fotos. 14 anos. Sinto tanta falta dos tempos de escola em que eu fazia de tudo para não estudar. Da liberdade de errar, burlar as regras. Contar anedotas sem graça. De roubar as revistas de mulher pelada do primo mais velho. Da ansiedade de descobrir o proibido. De praticar, mais tarde, o até então proibido. Vivendo um dia de cada vez, despreocupadamente.
E os amigos? Ah, os amigos! Que falta que eles me fazem. Conversas o dia todo e de nada se falava. Futebol até quando não fechava time. Truco. Massinha de creme da padaria. Salgadinho de cinquenta cents com refrigerante de laranja. Mais tarde, as paqueras. A cara de pau ao colar nas provas. Os primeiros porres de “kit” nas ruas. Mais velhos, as festas. Os verdadeiros porres. Saudade dos bons amigos. Saudades da despreocupação que existia em mim. Saudades dos tempos em que eu era, realmente, Feliz.
A dor não está passando, está piorando. Acho bom eu ligar para o doutor. Três..., sete, cinco, do...
“…When your fickle little love gets old, no one will care for you.
You'll come back to me for a little love that's true.
I'll tell you no and you gonna ask me why, why, why?
When I remind you of all of this, you'll cry, cry, cry.
You're gonna cry, cry, cry and you'll cry alone,
When everyone's forgotten and you're left on your own.
You're gonna cry, cry, cry”
terça-feira, 29 de julho de 2008
I love you, Goldie! - by Marv
A polícia. Entregando o jogo. Aparecendo quando somente eu e o assassino sabemos que houve um assassinato. Alguém pagou uma bela grana para me incriminar. Não havia motivo para ser discreto. Só tinha um jeito de resolver as coisas: do meu jeito. Quem quer que te matou vai pagar caro, Goldie.
Não sei por que você morreu, Goldie. Não sei por quê. E nem sei como eu nunca tinha te conhecido antes desta noite. Mas você foi uma amiga e muito mais do que eu precisei. E quando eu encontrar quem te matou, não vou matá-lo rápido e na surdina como fizeram com você. Vai ser com muito barulho e muito feio. Uma matança bem a meu gosto. E quando seus olhos ficarem sem vida, o inferno para onde eu o mandar vai parecer o céu depois do que eu tiver feito com ele aqui.
Rumo a depressão
Para dormir em paz
Estou há muito tempo pensando em escrever as minhas falácias, nunca comecei - Até agora. Não escrevo algo decente desde a oitava série, quando eu puxava, descaradamente, o saco dos professores e me animava com as notas dez que, freqüentemente, tirava. Os tempos mudaram. As pessoas mudam. Tornei-me um pseudo-intelectual. Um vagabundo de classe – ou apenas boêmio cara-de-pau. Que, com muita malandragem, foi levando o ensino médio sem seriedade, matando aulas, colando nas provas e nos trabalhos, pensando somente em achar uma boa sombra, sentar na grana, esticar as pernas, encostar-me na árvore e assistir o tempo passar. Passar assim tão devagar quanto às nuvens ou a brisa que me faziam pegar no sono em toda manhã de matemática ou português.
E em alguns sonos dessa malemolência toda é que me vieram à cabeça os bons momentos que passei no ensino fundamental. De quando a minha inteligência valia algo ou de quando eu dava valor a ela. Das vezes em que minha redação era lida perante toda a turma. Do discurso da formatura que ainda ecoa em meus ouvidos - “... o futuro Luis Fernando Veríssimo” – Longe de mim tal prepotência, mas ser ao menos comparado a ele era um ecstasy para o meu ego. E esses pensamentos me atormentando desde então. Por ter abandonado tudo isso, por ter me afastado de um possível destino, por rejeitar a mim mesmo, minha cabeça incha de dores clamando por compreensão.
Por isso, resolvi saciar o meu ego. Fornecer a ele o ópio de outros tempos para anestesiar e organizar a balbúrdia de minha mente. Para as dores cessarem.
O que penso escrevo. O que escrevo leio. Releio. A dor passa. Tenho paz. Durmo.