sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Os olhos

O olhar dela cruzou o olhar dele que a fixava. Parou assustada e fitou-o por alguns segundos. Os olhos de serpente, que encantam a sua presa antes de saboreá-la, eram feitos duas pedras preciosas e reluzentes cravadas na carne facial daquele bonito rapaz. Olhos maliciosos, encantadores.
Ela nem percebeu a aproximação dele, tão sutil, tão escorregadia. A boca dele se mexia em sua face, mas nada ela ouvia. Aquela luz emanada pelos olhos dele confortava os titãs no peito dela e a fazia inerte a ele, inerte ao mundo. Pois a dor a havia abandonado, os gritos do severo pai haviam se calado em sua cabeça naquele instante, toda a culpa, todo o rancor, toda a amargura de seu seio aquietavam-se. Só restava a ela a nostalgia, crescendo com os batimentos acelerados de seu coração, dos tempos de escola. O sentimento que ela aprendeu a apreciar sozinha, em seu quarto, deitada sobre a cama em meio à pilha de livros da faculdade, a saudade dos bons tempos.

Ela se quer reparou, mas os traços do rosto do rapaz já não eram mais os mesmos de outrora. Só que os olhos conservam a mesma jovialidade, a mesma presença, o mesmo poder que a roubou a calmaria do seu espírito na juventude escolar.

Aqueles olhos diziam mais a ela do que a boca dele - que se remexia e nenhum som se ouvia.
Aqueles olhos inundaram os dela de lágrimas inumeras vezes. Aqueles olhos trouxeram-na alegrias, tristezas e agora lembranças. Aqueles olhos bagunçaram com a vida dela em tempos antigos, embaralharam os caminhos traçados por ela, encruzilharam as retas. Aqueles olhos de serpente a haviam hipnotizado e a cegado para as faces alheias, para os olhos alheios.
E agora aqueles olhos estavam ali novamente em sua frente. Fixados nos dela. E nela o crescente desejo de abandonar tudo e seguir aquele brilho verde por toda a sua vida ou por toda a vida dele. Até não mais sentir absolutamente nada por si. Até não mais sentir nada por ele. Só pelos olhos dele.

6 comentários:

Anônimo disse...

Leo, parabéns pelo texto. Gostei. Acho que tens muito um dom para o estilo romântico. Sabes, quando leio os teus textos, noto que os românticos, têm muito pormenores, muito sentimento e sensibilidade. O meu preferido é a partida de Xadrez. Acho que aquele texto ficou magnífico. Os sentimentos dos dois personagens muito aflorados, muito reais.

Parabéns pelo presente texto também. E continua escrevendo.

Abraço

Anônimo disse...

Esqueci de colocar o nome, embora acho que saibas

*Paula

Anônimo disse...

Então o Carnaval??

Abraço
Paula

Leo Molleri, disse...

Dentro das espectativas. Mais tarde um texto que retrará sobre o carnaval. E o seu como foi?

Abraço

Anônimo disse...

Normal como comemorámos aqui em Portugal, baile de máscaras e brincadeiras com água :)

Abraço.
Paula

Anônimo disse...

Lindo o texto...
adorei msm =]
e vc sabia que eu ia gostar né ;D

Mas é difícil eu não gostar de alguma produção sua...elas a cada dia ficam melhores e isso é ótimo. =]

continue assim e continue produzindo. >.<'

bjoO ;***