O que não é recíproco é amar, isso sim é o que eu posso considerar uma verdade absoluta. Aí virá você e me dirá que não há verdade absoluta, que a unanimidade é burra e utópica, e nem ao menos notarás a essência de minhas palavras; citarás Kant, Piaget, até Nietzsche. Vá com essa sua pífia filosofia para a puta que te pariu e preste atenção no que eu digo. As palavras são falhas, eu sei, e tendem a inúmeras interpretações, mas o sentimento nelas é verdadeiro, são dotadas de inquietações e visíveis aos olhos de quem lhes cabem. Então o que eu digo é o que eu presencio ou sinto, não há uma lógica a se seguir, muito menos um método ou linha de pensamento. E o que eu vejo é que não há qualquer sentimento mutuo no amor, que morrer de amor por alguém ou nos braços sob a lágrima derramada do ser amado é apenas o final de algum conto trágico, triste, algo shakespeariano. Que manter-se nutrida a esperança de tê-lo como seu é sim um sentimento egoísta, mesquinho, unitário. E o desejo de ter-se dominado por ele também não é diferente; o amor é a semente da desgraça e da loucura.
Aos trapos, jogados nas vielas ou nos botequins, vê-se um contingente cada vez maior de afogados no acalmador da alma enfurecida, ferida. O líquido gelado que desce a garganta rouca do choro lamuriado, contido, aquece o corpo frio e mantém o coração vivo para as lamentações ao barman ou ao colega de caneco ao lado. É o líquido o único que conforta, que aquece, que mantém viva e depressiva uma vida qualquer. Não se devia proibir a venda de bebidas ou criar leis a sua restrição ou outros métodos de coagi-la e limitá-la ao homem. Pois ela não é a grande culpada. Deveria, sim, é proibir o amor ao homem ou a qualidade de amar e de ser amado. Pois é ele o maior assassino dos homens. Não me venha com dados estatísticos de poluição, má distribuição de renda, acidentes de transito, tráfico e consumo de drogas e o caralhaquatro, porque se pensares mais a fundo, com outros olhos e de outra maneira, verás que há o Amor por detrás de todos esses males. Ele é o grande mandante, o que põe a bala no resolver e engatilha para o próprio sujeito atirar em si. O verdadeiro Don Corleone.
Pode parecer sádico, mas essa cena, dos homens deploráveis entulhados em bares e calçadas, me anima; me faz sentir o sangue pulsar nos braços, no pescoço, na nuca. Faz com que o frescor do ar aspirado pela boca inunde meus pulmões e lacrimejem os meus olhos, arrepiando-me todos os pelos do corpo. Faz um leve sorriso brotar na minha face, às vezes não contenho uma leve e sutil sonoridade entre os dentes. Aquelas figuras medíocres de aspecto penoso, olhos inchados e faces barbadas, acolhem qualquer um ao seu meio sem pré-requisitos, sem apresentações, só com o olhar cabes baixo e a anuidade com a cabeça. Não me sinto só entre eles. Sou apenas mais um entre tantos. Sou apenas mais um medíocre bêbado que sofre com a arma apontada para a própria cabeça, com a certeza de que a bala encontrará a parede do outro lado do bar e uma mancha de sangue se fará sobre o balcão depois do último gole.
Mas sempre tem um para pedir uma nova rodada, tem sempre um a pedir conselhos, a puxar conversas. Tem sempre um a adiar o suicídio coletivo; a manter-nos vivos pelo respeito à dor do outro, por nos vermos nos olhos alheios, por nos sentirmos iguais e queridos entre si. Pelo conforto da companhia, eu diria até alguns momentos de alegria.
Um comentário:
Eu achei sádico mesmo uihai! Acho que quem não puxa o gatilho jamais eh por medo da morte, e sim puro egoísmo, Tah bem forte carregado o texto, porém a idéia e a análise são excelentes, espero tb que cara essa não seja tua visão de amor! colapsada uhaiuaiu! =D abraço!
Postar um comentário