quarta-feira, 24 de junho de 2009
Charminho o caralho!
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Mande notícias
O teu telefone tocou. Estava lá eu angustiado. O teu telefone insistiu, e estava lá eu ainda mais angustiado. Atendera depois da quarta desesperadora chamada. O teu 'Alô?' foi doce, carinhoso. Nem se quer sabias quem telefonara, mesmo assim mantiveste a doçura no tom de voz. Aquela mania de agradar a todos; bem me quer, sempre me quer. Um gole de conhaque foi preciso para eu me acalmar. E aquele medo de avião me invadiu o peito, quando, constrangida, sua voz revelara-se assustada. Não me contive, levantei-me do sofá de couro surrado. Comecei a andar de um lado para o outro da sala, nervoso. Mais um conhaque e já se fora metade da garrafa. No bolso nada - Ah, que falta me faz um cigarro! E como é perversa nesse jeito de falar; voz de Ligeia. As sereias, porém, possuem uma arma ainda mais terrível do que seu canto: seu silêncio. E o telefone no gancho ela colocou. E todo aquela quietude, som de respiração ofegante, coração disparado ocupou a sala. Barulho de nada. Está morto? E o silêncio respondeu... E o meu grito, pela madrugada, calou o silêncio da espera e deu início as comemorações no Morro do Catete.
Morre Pedro Paulo da Silva, o Joinha, chefe do tráfico de drogas do Morro do Jaú no Hospital Maria da Glória após ser baleado em confronto com gangues rivais pelos pontos de comercialização da droga.
terça-feira, 16 de junho de 2009
For a dream
segunda-feira, 8 de junho de 2009
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Troca equivalente
- Padre?
- Sim, Salazar! Veja você mesmo...
- Não, não é possível! Mas padre...
- Não, pelo visto não.
- Como isso aconteceu se você mesmo, padre, o...
- Não me pergunte, se eu soubesse não estaria aqui duvidando da minha própria fé.
- Padre...
- Que Deus me perdoe por essa terrível blasfêmia, mas se Pedro morreu não foi por culpa do nosso Senhor. Foi minha e tão somente minha, que não tive fé o suficiente Nele.
- Mas...
- Não mereço a batina que visto. Não mereço o toque de Deus sobre os meus ombros, nem ser um mensageiro de sua palavra... Não mereço nada que venha do Todo Poderoso!
- Pare, padre! O senhor fez tudo que estava ao seu alcance. Não teríamos como saber que Pedro se entregaria ao...
- Basta, Salazar! Este é um fardo que terei que carregar pelo resto de minha vida. E que Deus me perdoe por duvidar, e que me perdoe por não salvar Pedro dessa desgraça, por não tê-lo tirado do caminho das trevas... que Ele me perdoe algum dia por não ter tido fé.
...
- Salazar?
- Sim, padre, estou aqui!
- Venha, meu filho, despeça-se do teu irmão, que agora encontrou a liberdade que tanto me suplicava... a liberdade que não pude lhe dar de outra forma se não fosse pelas mãos cadavéricas da morte.
Salazar não compreendeu essas últimas palavras sussurradas pelo padre, mas dirigiu-se e ajoelhou-se perante ao corpo de seu irmão. Com os olhos fixos na face pálida de Pedro, Salazar chorou. Pela primeira vez em 20 anos ele demonstrou algum sentimento pelo irmão mais novo. E ao desviar os olhos, vasculhando o corpo de Pedro, notou na cintura a mancha de sangue sob a camisa branca e as palavras do Padre Ezequiel agora faziam-se claras.
Não o culpou. Não o julgou. Percebeu que o padre Ezequiel era tão humano quanto ele, tão humano quanto o seu irmão Pedro. Tão incapaz quanto qualquer um sobre a terra.
Ergueu-se firme com o corpo de Pedro em seus braços e decidido, não mais cairia sob os pés de outro semelhante, não se entregaria as palavras de um ser que mal conhecia ou se quer chegou a realmente conhecer.
Salazar abandonou sua fé e, então, não mais chorou.