- E o sangue ainda quente em minhas mãos fez-me ranger os dentes, trancar a respiração, enxergar os escuros do quarto mais nítidos do que toda a luz que emanava pela janela. A dor inicial já não importava mais, mas o sangue sim. Só o sangue em abundância que importava. O pavor me dominou, os sentidos me abandonaram e a luz se apagou. E na minha primeira vez eu desmaiei e descobri que tinha, e tenho, hermatofobia. E agora toda a vez que eu e o meu namorado estamos, o senhor sabe... transando, eu acabo desmaiando por lembrar do ocorrido. Para ele tanto faz, aquele canalha, porque quinze minutos é mais tranquilo do que duas horas. Mas o que me preocupa não é ter que atingir o orgasmo sozinho, doutor, mas é ser violada por trás na hora em que eu desmaiar. O senhor entende, né? Anal. Por isso tenho evitado dormir com ele. E ele não suporta mais isso, me disse que está revendo nosso relacionamento. Pediu um tempo, sabe? E eu o amo, doutor, sei que ele me ama e não quero perdê-lo. E tenho medo que ele esteja já me traindo com outra. O que eu faço, Seu doutor?
- Terapia!?... Ah, para perder o medo de sangue? É isso, doutor?
- Não, para perder esse medinho besta de dar a bunda. Porque, sinceramente, todo homem sonha em ter uma mulher, assim, como a senhora: bonita, sexy, que não se preocupa em atingir o orgasmo sozinha e que desmaia na hora do sexo. Seu namorado, um cara de sorte. Não será eu, e a senhora me desculpe, que irá estragar tudo isso. E se a senhora o ama e quer que ele continue a amando, faça o que eu digo: procure um terapeuta!